segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Roteiro de Cinema


Embora não goste, e não sei porque não gosto mais, sempre tive a habilidade de escrever. Tenho minhas próprias teorias para explicar o porquê não tenho o hábito de deixar quase nada registrado no papel, sempre confiando na memória, até mesmo para projetos de longo prazo, onde talvez muitas ideias acabem se dissipando ao vento. Mas escrever boas histórias, em parte, foi algo que outra habilidade, se é que podemos chamar assim, me acompanha de longa data, a de escolher os ídolos e heróis. 

Geralmente, as escolhas vêm antes dos feitos notáveis. O caráter, o empenho, a motivação obstinada a chegar ao objetivo, o espírito de cooperação, a maximização de chances e a superação já tendem a atrair a minha atenção. E os meus ídolos e heróis foram sempre os melhores. As histórias mais bonitas, os roteiros de cinema, épicos e improváveis, com a reviravolta vindo nos pequenos detalhes estão na biografia de todos eles.

Talvez, por isso, eu levei a minha vida a um ponto que não tenho certeza se era necessário. Eu queria as minhas conquistas assim, como um verdadeiro herói. De forma inconsciente, ou até mesmo, simplesmente pela força do destino, muitos dos grandes acontecimentos da minha vida seguiram esse enredo. E contar as histórias desses triunfos é prazeroso demais.

Mas grandes vitórias com histórias bonitas presumem um risco natural, o das igualmente grandes, derrotas.

As vezes, a ansiedade em chegar lá, quando parece que está quase sacramentado, nos faz tomar decisões inexplicáveis. E claro, já cometi os meus grandes erros, e deixei de finalizar histórias mágicas com finais melancólicos. Hoje, uma dessas passagens me deu uma raiva irracional, que me tirou da cama para escrever esse texto, quase 10 anos após o último que aqui publiquei.

E vou explicar esse sentimento. Não havia a menor chance do meu final de cinema ter sido feliz depois do fechamento das cortinas. Teria sido um desastre, mas as vezes dói um pouquinho não ter pelo menos, até certo ponto, escrito a história como eu a idealizei. Ao mesmo tempo, tenho que dar graças a Deus por isso, porque eu simplesmente poderia hoje estar vivendo o cenário mais amedrontador que eu poderia passar na vida, o único que não sei se teria forças pra lidar da melhor maneira possível.

Mas confesso, que de forma tola, nesse momento, o que me incomoda mais é não saber se terei mais um grande momento desses pela frente, assim, como eu vi meus ídolos alcançarem da forma mais linda possível. Por outro lado, tem tudo pra dar certo, de tão improvável que parece, como em todo bom roteiro.

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